segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Crônica: No divã da insensatez: a Assistente Social, a Vereadora!

Nunca vi tamanho abuso. Estou confuso, obtuso, com a razão em parafuso: a honestidade saiu de moda, a honra caiu de uso. (Sobre a atual vergonha de ser brasileiro - Projeto de Constituição atribuído a Capistrano de Abreu - Affonso Romano de Sant'Anna)

Por: Leon Guzmán 

Na cidade fictícia de Novo Patamar, onde o sol se esconde cedo e deixa ruas esburacadas na penumbra, vivia Cianca Mente, uma mulher formada em Serviço Social, movida por uma pergunta incômoda: “Se eu fosse vereadora, o que faria por quem confiou em mim?" Enquanto via crianças brincando em poças de lama, sem saneamento, e idosos enfrentando filas intermináveis por saúde, ela sabia que o papel de uma vereadora e assistente social ia muito além de gestos simbólicos. Em Novo Patamar, como em qualquer município brasileiro, a vereadora é a voz do povo no Legislativo municipal. Sua missão? Criar leis que transformem a cidade – de impostos a educação, de transporte a saneamento – e fiscalizar o prefeito, garantindo que cada centavo dos impostos seja bem gasto, com transparência e impacto real. Sem isso, é só um cargo vazio, um ralo para o dinheiro público.

Imagine Cianca Mente eleita, com sua formação em Serviço Social – um curso que a ensinou a decifrar a sociedade, enxergar desigualdades e agir por inclusão. O que ela faria? Proporia leis práticas: centros de acolhimento para pessoas em situação de rua, programas de capacitação para jovens periféricos, parcerias contra a violência doméstica. Na educação, lutaria por escolas integrais, mesclando ensino e saúde mental, tão vital em bairros onde a pobreza esmaga sonhos. Na saúde, pressionaria por mais postos, médicos, com foco em pessoas vulneráveis – mulheres chefes de famílias, jovens meninas mães, jovens usuários de drogas, sempre com a empatia que aprendeu na academia. Fiscalizaria verbas do SUS e do Bolsa Família, garantindo que não se perdessem em corrupção ou ineficiência. Para Cianca Mente, Serviço Social é ação, não teoria.

Mas e a grande questão? Em Novo Patamar, qual seria sua prioridade: batizar um bairro com nomes como “Julia Floresta”, “Prima Mariana Teach Office”, “18 Minutos”, “Jujubas Psicodélicas” ou “Pó do BF” – todos criativos, alguns excêntricos – ou investir em saneamento básico, iluminação pública, saúde e infraestrutura? *Vamos ser incisivos: nomes de bairro são apenas placas, gestos vazios se a realidade continua cruel. “Julia Floresta” soa poético, mas de que adianta se as casas alagam na chuva? “Jujubas Psicodélicas” pode até arrancar risadas, mas não ilumina ruas escuras onde mulheres temem andar. “Pó do BF” pode ser provocador, mas não leva água potável às crianças. A verdadeira prioridade de Cianca Mente, seria clara: saneamento para combater doenças como dengue, que matam nas periferias; iluminação para garantir segurança; saúde com remédios e vacinas acessíveis; infraestrutura com ruas pavimentadas e ‘pontes’ para unir comunidades. Ela brigaria por verbas no orçamento municipal, cobraria o prefeito e buscaria recursos com deputados. Porque nomes de bairro, por mais criativos que sejam, não mudam vidas – saneamento, luz e saúde, sim.

E se Cianca Mente, mesmo com sua formação, fosse uma vereadora sem conteúdo teórico, sem leitura social? Sem aplicar seu conhecimento sobre urbanismo, educação ou desigualdades, para que serviria? Para embolsar o salário pago pelos impostos, enquanto Novo Patamar definha? Vereadores e vereadores assim lotam câmaras pelo Brasil e de Novo Patamar: eleitos por carisma ou acordos, aprovam leis genéricas, posam em fotos de obras alheias e fiscalizam nada. Sem visão, não transformam; apenas sugam recursos públicos – salários, verbas de gabinete, benefícios – sem devolver progresso. Em Novo Patamar, uma vereadora assim seria um desperdício, um lembrete cruel: vote com consciência, ou a cidade seguirá no escuro, com ou sem “Jujubas Psicodélicas”.

Cianca Mente sonhava com um Novo Patamar diferente. Não com placas de nomes excêntricos, mas com ruas iluminadas, esgoto tratado e saúde para todos. Ser vereadora não é cargo; é missão. E se todos pensassem como Cianca Mente, Novo Patamar não seria só um nome – seria um lugar onde a esperança, enfim, encontraria endereço.

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